By Cucas
Eu não tenho como dizer que sou uma pessoa muito religiosa. Mas estou longe de ser alguém que questiona a presença de um ou mais deuses. Acredite, aqueles que gastam tempo, dinheiro e saliva tentando convencer a todos que somos resultado do acaso, de probabilidades mínimas que se manifestaram em um específico momento estão esquecendo-se do fato básico que prova a presença de Deus: O acaso é desprovido de emoção. Deus, e os que contestam isso também vão quebrar a cara, não.
É muito simples, probabilidade alguma, acaso alguma criaria algo tão sacana quanto as 2 horas entre o levantar da cama e o acordar. Serei claro e direto, exemplificando como probabilidade alguma nos criariam seres tão perfeitos para fazer merda de manhã.
Caso 1: A gravata.
Minha rotina por aqui, durante a manhã é: Acordar, lavar a cara, xixi, limpeza em geral, café, torrada e computador. Passo uns 20 minutos comendo minha torradinha, me atualizando das noticias ao redor do mundo e me apresentando na webcam com minha cuequinha do Pikachu. Não raramente perco a hora e tenho que me trocar voando. E o dia que entrarei em detalhes não foi diferente. Coloquei gravata, estava prestes a sair e notei duas coisas: estava frio pacas e eu havia esquecido meu desodorante e meu perfume de urtiga (é serio). Pois bem, volto coloco o desodorante rapidinho, perfume e pego um moletom.
Nesse dia eu estava indo para uma reunião. Chego no local, quente pacas devido a calefação desregulada, tiro o moletom, arrumo o cabelo, a gravata, bato na porta e pergunto que horas seria a reunião, até então marcada apenas para “pela manhã”. Recebo a informação, falo com todos na sala de maneira amigável, sabe como é, trabalhando o networking. Saio para a minha mesa e sinto um friozinho no peito, olho pra baixo e eu vi algo mais ou menos assim:
FRUTAQUECAIU! Eu esqueci de abotoar a camisa depois de colocar o desodorante e estava networking latin lover style!
Caso 2: Contos de infância
Esta aconteceu várias vezes. Desde pequeno as manhas são dolorosas. Me lembro de acordar, escovar os dente e enfiar a cara na água gelada, não porque eu queria me lavar mas porque minha mãe tinha me ensinado que ajudava a acordar. Sim, minha mãe, a mesma que não estava presente nesse dia. Meu pai seria o responsável por nos apressar, catar as lancheiras e voar para chegarmos a tempo de entrar no Candanguinho sem que o Tio Zé brigue. Obviamente tendo aquele cuidado que apenas pais tem. Chego ao colégio e me dou conta, pela primeira vez, o quão maldosas crianças são. TODOS apontavam para mim. Olho para baixo e noto que estou com minha calça do pijama. Sim, troquei de roupa, escovei os dentes, calcei o tênis e não lembrei de trocar a calça. E o mais bizarro, meu pai me levou ao colégio nesse estágio. De duas uma, ou ele realmente prestava atenção na gente ou ele compartilha do mesmo humor divino.
Caso 3: Vai popozuda
Tudo descrito em 1 porém com botões abotoados (estou neurótico com isso agora). Me dirijo para a parada de ônibus, escutando mp3 no meu celular, que se encontrava nesse bolso da mochila feito pra isso. Paro na parada e resolvo tirar a mochila das costas. Óbviamente (ultraproparoxítona) esqueci de tirar o celular. Resultado, o fone continua no meu ouvido mas se despluga do celular, que é um aparelho novo e devidamente equipado com alto falantes relativamente potentes que se ativam quando o fone não esta presente. O silêncio mortal da fria manhã escocesa na parada de ônibus foi interrompido por….
HEY! YOU’RE CRAZY BITCH, BUT YOU FUCK SO GOOD I’M ON TOP OF IT! WHEN I DREAM I’M DOING YOU ALL NIGHT , SCRATCHES ALL DOWN MY BACK TO KEEP ME RIGHT ON!….
Eu lentamente me movo ao bolso onde está o aparelho, tranquilamente pego o celular e reconecto o fone de ouvido, como se nada tivesse ocorrido. Como se eu não notasse ou me importasse com as crianças apontando para mim e chorando, os padres jogando água benta, as velhinhas se afastando… Até o ruivinho que normalmente chega no ônibus como se a mãe tivesse colocado cocaína, extasy, red bul e café na mamadeira dele apenas me encarava e tirava meleca do nariz. Eu obviamente me controlei e fiz o que qualquer homem que não deve nada a ninguém e paga as próprias contas faria. Peguei o próximo ônibus.
Existem outros casos como quando atendi o telefone do escritório falando português, fui ao escritório errado, fui para a octogonal, meu antigo lar, ao invés de ir para a faculdade mijei no lugar errado, etc etc.
Caro leitor, as duas horas entre levantar e acordar foram criação divina para se divertir. Simples assim. Acaso ALGUM seria tão precisamente sacana, como meu pai me levando ao Candanguinho.
ps: no Brasil eu tinha desenvolvido a técnica cambalhota na cama das minhas irmãs para reduzir o tempo entre levantar e acordar. Estou pensando o que a mudinha acharia de ser acordada assim. Provavelmente descobriríamos em quantos pedaços um barbudo pode ser partido.